segunda-feira, 23 de abril de 2012

Silêncio

O meu quarto encheu-se de silêncio, naquela manhã chuvosa, naquele dia tortuoso. Eu penso muito, e penso muito alto. Falo muito para mim. Mas é quando eu estou mergulhada no silêncio que eu penso mais sabiamente. É quando eu não digo nada, quando eu não respondo, quando eu não reajo, que me sinto mais assoberbada  pelos pensamentos que, devido à minha idade, eu não devia ter.
Lembro-me de ser pequena, ainda mais, com apenas cinco ou seis anos, e chorar na almofada, porque um dia ia morrer, e ia doer. Perguntava-me o que faria quando a morte me viesse buscar, e como seria depois disso? Hoje em dia, com dezassete anos a pesar no corpo, penso no mesmo, e choro na mesma almofada, também ela com os anos a pesar.
Pensei muitas vezes em adiantar o destino, criar o meu próprio, não me deixar cair nas mãos de alguém, como se fosse uma marioneta, facilmente manipulável. Mas na verdade, eu só queria ser salva. Só queria que alguém me dissesse que eu não estou sozinha no mundo, que todas as acções que nós temos para com os outros não são puro teatro, mas sim amor genuíno. Queria que alguém me desse a mão e me ajudasse a atravessar as adversidades, fossem elas quais fossem, sem nunca me largar ou vacilar. Não precisava que as ultrapassasse por mim... Só precisava que estivesse lá para as ultrapassar, comigo.
No entanto, nada disto importa, porque eu volto todas as noites sozinha para a mesma almofada que tem acolhido as minhas ideias bizarras e os meus pensamentos mórbidos. Nada disto importa porque, no fim do dia, no fim do caminho, no fim da vida, todos nós morremos sozinhos.
Não é um texto triste... Não estou triste. É só uma reflexão sobre um facto que eu já aceitei. Já me conformei.
Nestes últimos anos incumbi-me da missão de mostrar às pessoas o quão falsas elas são, quão falsos somos todos nós, seres-humanos. Obriguei muitas pessoas a reflectir sobre a existência humana, porque queria que elas abrissem os olhos como eu abri. Pensei que conseguia resolver tudo. Mas não, pelo contrário. Essas pessoas tornaram-se tão-sem-esperança como eu, e eu não devia ter feito isso. Este é um fardo que eu devo carregar sozinha, por muito que me custe. É um trilho que eu devo fazer, tendo meramente como companhia eu própria. E estou bem com essa decisão. Pela primeira vez na vida sei que estou bem com essa decisão. 

Sem comentários:

Enviar um comentário