domingo, 30 de outubro de 2011

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Maria.

Ela limpa a maquilhagem dos olhos, enquanto as lágrimas lhe caem pela face, pingando no chão, como se de chuva se tratasse. 
Deita-se na cama luxuosa, enrolada na sua camisa de noite de seda. Pega cuidadosamente no copo de vinho tinto em cima da mesinha de cabeceira e olha para ele, vazia. As lágrimas caem dentro do copo, misturando-se com esse néctar fatal.  De uma só vez ingere o líquido todo. Se é para morrer, que seja depressa!
Olha para o seu lado esquerdo, passando as mãos pelos lençóis perfeitamente engomados, a almofada perfeitamente ajeitada. Tudo perfeito. Pena que não tivesse ninguém para partilhar. Morria todos os dias um pouco por dentro (e por fora também).  Ela tinha sido abandonada, qual lobo solitário, na sua própria festa. Tinha acabado com os sonhos de alguém, para que os seus também acabassem por consequência.
Agora, dedicava-se a preencher a sua vida, com este e com aquele, sempre em modo porcelana, com cuidado para não partir mais... Enchia o seu corpo de álcool e de outras drogas e a sua alma, incompleta... Aliás, tinha-a perdido à muito, só não se tinha apercebido, até aqui.
O seu olhar vazio divaga agora pelas quatro paredes do quarto que a separam de um mundo ainda mais vazio que ela. Perdeu toda vontade de sonhar. Para quê? É indiferente... 

"Estala, coração de vidro pintado!"

Eu deixo, a bem, para sempre.

Desta vez eu deixo, mesmo, para sempre. Saio com lágrimas, mas saio de vez.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Papá, quando tu não estavas...


"Papá, quando tu não estavas" será a minha primeira obra. Já a pensei há muito tempo, mas somente a comecei a escrever há dois meses atrás. É uma história de Drama que conta a vida de uma rapariga com pouca sorte, que desenvolve uma doença bastante rara. E mais não digo...

Loucura, traição e remorso


Esta é a minha história. Bom... Quase.
Eles eram quatro jovens, quatro amigos. Carolina, a mais nova e inocente; Carmo, uma mulher sensual, um pouco mais velha que a sua irmã Carolina; Lucas, um negrinho com um talento enorme para o drama; e Miguel, o mais velho e, consequentemente,  líder do grupo.
Os quatro eram actores do mais alto nível. Faziam parte (eram os únicos elementos aliás) de um companhia de teatro independente, que corria o país com as suas dramatizações que chocavam mundos e angariavam fundos, muitos fundos. 
E contudo, desta vez eles não estavam a representar (pelo menos é o que se acha). As lágrimas escorriam pelas suas faces demasiado maquilhadas e os gritos sufocados abundavam no grupo. Lucas estava morto. Foi Carolina quem o encontrou, sentado numa cadeira, de uma forma muito relaxada. Teria morrido de causa naturais, não fossem as marcas de correntes estampadas no seu pescoço. Depois dos resultados dos exames forenses, que provavam que tinha sido homicídio começou a instalar-se a discórdia entre o grupo. Carolina desconfiava de Carmo, porque supostamente tinha ciúmes da relação perfeita que havia entre Carolina  e Lucas; Carmo desconfiava de Carolina, porque ela poderia ter descoberto que essa relação não era assim tão perfeita, visto que Lucas caminhava todas as noites até seu quarto, a fim de sexo com alguém que sabia o que estaria a fazer; e se tivesse sido Carolina? Seria ela capaz de matar a sua própria irmã?
Miguel tinha somente receio que pensassem que ele tinha inveja de Lucas, e que o tinha morto por causa disso. 
Falaram então uns com os outros e decidiram, talvez em homenagem a Lucas, talvez para aproveitar a publicidade que a sua morte lhes tinha oferecido, continuar o espectáculo - " 'cause the show must go on!"  Este espectáculo consistia em relatar uma lenda daquele teatro. Falava de um rapaz, que tinha sido esquecido no teatro por uma noite e que nessa noite tinha falado com os fantasmas do teatro que, por terem achado os seus conselhos tão sábios, o trancaram e o deixaram a morrer à fome, de forma a que ele lhes fizesse companhia.
A verdade? A verdade é que esse rapazinho foi deixado, esquecido no teatro pelos pais, morrendo à fome, sem amor, sem carinho, e sem comida.
Era o dia do espectáculo. As portas do teatro abriram-se nessa manhã e a população corria para garantir o seu bilhete.
Carolina tomava o seu café da manhã na cozinha do teatro, digerindo, lentamente, um pão com manteiga e o facto de o seu namorado já não estar vivo.
Surgiu então uma voz que se aproximava conforme os segundos passavam. Falou com Carolina de uma forma cuidadosa. Queria ser seu amigo, queria que fosse ela a revelar ao mundo que a lenda era verdadeira, que ele existia. Ela respondeu, sobressaltada, que iria guardar tudo para ela até aos momentos depois do espectáculo. Teria de planear tudo até ao mais ínfimo pormenor, para que ninguém descobrisse. Ele apelidou-a de Dona Loucura.
Carmo maquilhava-se no camarim, quanto encontrou um pequeno bilhete, dirigido a ela:
"Carmo, minha querida:
Estou feliz por finalmente poder comunicar contigo. Tenho-te contemplado ao longo dos dias e o teu corpo emana uma sensualidade que me atinge de uma forma profunda, demasiado profunda.
É por isso que quero confessar a ti e unicamente a ti, quem eu sou. Eu sou um fantasma, aprisionado para sempre neste teatro horrível, e quero que o contes ao mundo, mas apenas depois do espectáculo. Quero mesmo muito ser teu amigo, e quem sabe mais.
Sei da tua traição, Dona Traição, e perdoo-te. 
Um beijo"
Carmo sorriu.
Miguel preparava-se para actuar quando alguém na sua cabeça sussurrou: "Mataste Lucas. Eu sei. Mataste Lucas, por inveja. Mas eu não conto a ninguém. Sou real e quero ser teu amigo. Vou-te ensinar tudo no fim do espectáculo, mas fala de mim nos agradecimentos finais!" Miguel acenou, assertivamente, muito seguro de si.
Nunca um teatro fora tão aplaudido.
Após o fim do teatro a voz falou com os três ao mesmo tempo. Nunca ninguém entendeu o que a voz lhes disse. Só sabemos que ela lhes tinha aconselhado que fossem amigos e eles não foram. E aquele ser humano só queria amigos. Mas todos os rapazes crescem e tornam-se homens, e ao tornarem-se homens perdem toda a humanidade. Foi o que aconteceu.
Não se sabe bem o que se passou depois do teatro, mas dias depois milhares de postais vindos do teatro correram o mundo.
O teatro fechou para sempre, devido ao conteúdo desses postais.
No verso do postal diz " A Amizade supera todas as barreiras: a loucura, a traição, o remorso e a morte." e, na frente, uma imagem chocou o mundo: os quatro actores estavam sentados na plateia. As suas caras estavam deformadas, cobertas de marcas de injecções de cera. Nas suas testas, mesmo por cima dos seus olhos esbugalhados e marcando as suas expressões de dor, dizia: "MORTO", "DONA LOUCURA", "DONA TRAIÇÃO" e "DOUTOR REMORSO". Uma quinta figura de cera podia ser observada no canto do postal, com uma frase escrita no peito: "Agora já tenho amigos no teatro".
E acaba assim a nossa história. Com cinco amigos e uma amizade imortalizada para sempre. Que lição podes tirar daqui? Espero, sinceramente, que nenhuma.

Maria J. Vieira

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Oporto





Maria Vieira  (Viana do Castelo) e Cristiano Azevedo (Vila Nova de Gaia), a vaguear por terras de Porto e Gaia! :D

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

SONHAR

Eu sonhei ser tudo o que sonhavas. Eu sonhei sonhar o que tu sonhavas para mim. Mas depois eu percebi que o teu sonho não era o meu sonho e que o que tu tinhas sonhado não era o que eu queria para mim. ~ M.J.

sábado, 8 de outubro de 2011

Mi oscura claridad...

Ele caminhou na sua direcção, tão eloquente como entrou na sua vida. E o sonho começou. Ela cerrou os olhos, e quando os abriu o mundo era completamente diferente. Ela já não se sentia perdida, pelo contrário. Sentia a sua presença quente e o seu espírito forte, que a mantinham segura. Assim do nada, rendeu-se aos seus encantos. Uma estranha sensação, como se de uma mão amiga se tratasse, levou-a a confiar-lhe os seus segredos mais íntimos. Aqueles que ela evitara contar aos seus amigos de infância, ela contou para ele, o desconhecido. 
Os seus longos cabelos escuros caíam-lhe sobre a face bem desenhada, enquanto os seus lábios proferiam conselhos sábios. A sua voz era calma, grave, serena... uma qualidade inerente aos seus olhos, olhos esses que ela não conseguira decifrar, apesar de exímia nesse jogo. Olhos esses, para os quais ela olhara e não conseguira tirar uma única conclusão. O seu corpo bem delineado despertava nela um interesse fora do comum. Queria tocar, queria beijar. Queria poder estar mais próxima dele, sem o assustar. Queria poder dizer-lhe que não tinha más intenções, de todo. Mas era demasiado cedo.
O seu corpo exprimia marcas "de guerra". Marcas essas que ela conhecia muito bem, visto que ela também as possuía. Não importava, de forma alguma. Ele era um ser perfeitamente imperfeito aos olhos dela.
Ele não a ia deixar sozinha, e ela não queria ficar sozinha. Por isso mesmo, a despedida foi tão difícil e ela continuou o seu caminho até casa, pela primeira vez, segurando nas duas mãos o telemóvel, esperando noticias... ou talvez um último beijo rápido sem ela dar conta. E caminhou, de sorriso adolescente na cara, sonhando com o amanhã.

Metáfora.

E ela cansou dos seus "fantasmas". Cansou daqueles que a prendiam a solos indesejados e a forçavam a sentir dor, dor essa que se fundia com os seus desejos sádicos mais profundos e a afogavam como se de um precipício se tratasse. Cansou da agonia constante em que sobrevivia aos dias, que passavam, tudo menos serenos por si e que, de uma forma tudo menos gradual, a envelheciam e esgotavam.  Cansou da dependência exasperante e da companhia sobrevalorizada que lhe valeu, enaltecendo todos os seus conteúdos, os melhores, mas também os piores momentos da sua breve vida. 
E cansada, porém com um sorriso estampado nas sua face redonda, ela continuou a bater os saltos altos, pela avenida abaixo, sem sequer um relance do que teria deixado para trás, apesar das cinzas daquele fogo que ela tivera a coragem de extinguir permanecerem eternamente no seu coração.  Ela foi ao encontro Dele, o tal. Se ele virá ou não ao encontro dela, somente mais tarde o saberemos.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Tired...

A passar uns momentinhos maus por aqui.... Espero que passe depressa... É uma fase...

terça-feira, 4 de outubro de 2011

"Dilantetista"

Poeta não esquece, vive a dor.
E revive-a para não mais a esquecer.
Poeta quando sente, sente com ardor,
De tal forma intenso, até perecer.

Se agora o vês, mais tarde não o verás,
Porque quem ele é agora, mais tarde não o será!
Ele divide-se em vários, decerto saberás...
A morte ele engana e lança-se ao Deus D'ará!

Poeta fragmenta-se, como podes saber,
Não é ninguém; e é toda a gente.
A pergunta é: quem será ele quando morrer,
Um fulano querido, sensato... ou demente?

Imperador do reino da loucura,
Expele e cospe seus pensamentos,
E não te enganes, não é brandura,
Todo ele é somente sentimentos.

Esmaga, destrói e fere,
Esmagado, destruído e magoado.
Não há NELE amor que impere,
Apenas ele, e o seu "eu" aprisionado.

In Fernando Pessoa

Neste tempo morto a passar,
São estes, devaneios do meu ser:
"Quem vive não sabe como pensar,
E quem pensa não sabe como viver."

In Fernando Pessoa como deves saber,
Transportando toda uma essência.
Não é ele fruto do meu querer,
Mas culmina em minha ascendência!

Pois sou poetisa, sou sim senhor,
Ainda que não me ache o ser,
Mas sinto como uma e prevejo a dor,
Como razão para meu lento morrer.

Sou poetisa e escrevo como tal,
Com o verso e a rima eu sei atacar.
Os meus instintos, os de um animal,
Animal - fera, que morde sem pensar.

A minha arma é a rima popular,
E a quadra aqui se apresenta,
Rima cruzada, podes adivinhar,
É ela, fervor que não me esquenta.

Pois neste tempo morto a passar,
São estes, OS devaneios do meu ser:
"Quem vive não sabe como pensar,
E quem pensa não sabe como viver."