sábado, 5 de junho de 2010





Era uma vez uma rapariga. Esta rapariga tinha pele clara, belos cabelos negros como a noite ,que lhe caíam pelos ombros bem formados, característicos de quem carrega um enorme fardo e olhos de um verde-azulado magnífico. Caminhava firme mas suavemente, como se voasse a cada passo que dava. As suas mãos sensíveis, de uma finura incrível, agitavam-se com o vento, como se ela não passasse de uma miragem.
Esta rapariga vivia num conto de fadas. À sua volta existiam jardins floridos e árvores imponentes. Coelhos passeavam por esses jardins e pequenas borboletas enchiam o ar. Uma brisa ligeira soprava aos seus ouvidos e um cheiro a frutos silvestres inundava-a e acolhia-a. A rapariga inclinou-se para o céu e vislumbrou a sua beleza, sem uma única nuvem. Era um local mágico, só dela.
No fundo ela sabia o que se passava, só não o queria admitir. É uma das cinco fases do confronto com a realidade sabiam? A negação.
Ela era a rapariga que tinha falecido naquele dia do terramoto, a única pessoa a morrer num terramoto que abalou o mundo inteiro. Parecia destino. Tinha ficado presa debaixo dos escombros durante nove dias, sem comer e sem beber, sem poder sequer se mexer.
Mas isso não lhe importava. Ela aguentou aqueles nove dias, não por querer sobreviver, mas por não querer morrer sem viver o seu conto de fadas. E é isso mesmo que ela está agora a fazer.
Esta rapariga, a única vítima do terramoto daquele dia, vive neste preciso momento um conto de fadas sem final, escrito por si, à sua maneira.
Maria Vieira

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