terça-feira, 29 de junho de 2010





É como se eu fosse uma alma eternamente perdida neste meio céu - meio inferno, do qual não posso escapar, por mais que assim o deseje.


Era uma vez uma rapariga de um beleza incomparável. Infelizmente tinha de se esconder por detrás de inúmeras máscaras e facetas, pois a sua beleza era invulgar e as pessoas não entendiam, e por não entender temiam-na.
Esta jovem só podia ser ela própria à noite, altura em que tirava todas as suas máscaras e mostrava quem realmente era. E nesses momentos ela podia libertar-se; subir aos telhados mais altos e dançar, cantar, sentir o vento a bater-lhe na cara e a agitar os seus lindos cabelos pretos. E nesses momentos, apenas nesses momentos, ela podia afirmar ser verdadeiramente feliz.
Uma noite, enquanto observava a lua cheia, especialmente linda naquela noite, um rapaz apareceu e com gestos leves amarrou-a e ergueu-a. Sem dizer uma palavra beijou a mão dela e sorriu-lhe. E a rapariga sentiu-se parada no tempo. Sabia que tinha bastado aquele sorriso para entender que estava profundamente apaixonada e que não podia, nem queria, abdicar daquele amor.
E eles caminharam a noite toda e dançaram e abraçaram-se, sem dizer uma única palavra. Só de madrugada é que o rapaz sussurrou para que se encontrassem na noite seguinte. A rapariga assentiu com a cabeça e ficou a olhar a sua alma-gémea a ir embora.
Passaram-se mais algumas noites e numa delas o rapaz ajoelhou-se à frente dela e sussurrou:
- Somos duas almas deslocadas neste mundo sem tempo para o que realmente importa, minha querida. Ele ainda não está pronto para nós, nem para o nosso amor. Desejas casar comigo amanhã à noite? Daremos as nossas mãos e morreremos juntos, para juntos ficarmos para toda a eternidade. Diz que aceitas e farás de mim o Homem mais feliz do Universo.
Ela respondeu:
- Sim meu amor, farei tudo o que queiras, desde que prometas ficar a meu lado para todo o sempre. Passaremos o ponto sem retorno e seremos nós somente, sem mais ninguém.
Despediram-se então. Na noite seguinte voltaram-se a encontrar, ele com um fato negro e ela com um vestido branco que reluzia à luz das estrelas.
Deitaram-se sobre as folhas que haviam caído durante o dia das árvores e beberam ambos de um frasco. Deram as suas mãos e beijaram-se como se fosse a última vez que se viam. Olharam um para o outro e adormeceram, para não mais acordar.

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