domingo, 31 de julho de 2011

A Criada - parte IV


Comentava-se. Comentava-se muito. Segredava-se principalmente. O medo era grande. Pudera… Toda a gente sabia o que acontecia aquelas que queriam sair daqui à força. Acabavam envoltas em sacos pretos e enterradas nas traseiras da casa. Ouviam-se histórias. Umas diziam que as enfermeiras as queimavam vivas, como castigo. Outras diziam que lhes mudavam os medicamentos, de forma a parecer um acidente a overdose que lhes estava destinada. Fosse como fosse a verdade era que nenhuma das raparigas que tinha tentado fugir tinha voltado. E ai daquela que tocasse no nome de alguma delas.
Seis jovens iriam fugir do manicómio amanhã à noite. Eu era uma delas. As desertoras que me iam acompanhar eram a Lara (via pessoas mortas); as irmãs órfãs (e bastantes loucas) Maria e Ana, que tinham como divertimento matar animais, desde que o seu animal de estimação, Lorde (um cão de raça), tinha sido morto por uns jovens delinquentes;  a Cátia, de quem eu sabia muito pouco, visto que ela não era de muitas falas (os pais haviam-lhe cortado a língua ainda em pequena; vítima de maus tratos desde bebé) e a mais nova do grupo, com apenas treze anos, a Cláudia. A Cláudia tinha cortado a garganta aos pais e à sua irmã recém-nascida, com apenas seis anos. Tinha ciúmes da atenção que a irmã estava a receber, que antes tinha sido só dela. Por isso decidiu cortar o mal pela raiz, literalmente.
O medo e a ansiedade pairam e abundam nesta prisão em que nos encontramos. Faltam poucos segundos até a Cláudia fazer soar a sirene de alerta de incêndio.
Três… Dois… Um…
O pânico desperta no edifício. Todas as raparigas (menos nós) correm de um lado para o outro, aos gritos, na esperança de não morrerem queimadas. Os médicos e enfermeiras tentam acalmar, sem efeito, as dezenas de jovens perturbadas. Nós aproveitamos que as portas se abriram para fugir, sem que nos vejam. Corremos o mais que podemos, até cairmos de cansaço junto a umas árvores. Sei onde estamos. Conseguia ver esta floresta da janela do meu quarto. E sei que, senão me engano, estamos perto de uma mansão abandonada há muitos anos.
- Podemos descansar ali à frente. Junto aquela casa. – disse eu.
- Porque não a invadimos? – perguntou a Cláudia.
- E se não está vazia? Já pensaste? – Ripostaram as irmãs, um pouco alheadas da conversa, mais atentas à possível aparição de algum animal.
- E quê? Creio que todas nós sabemos como usar uma faca… - disse a Cláudia, com um sorriso na cara.
- Não! Chega Cláudia! Vamos dormir aqui! – Ordenei eu, com cara de quem não está a gostar nada da conversa.
- Tu lá sabes. Mas amanhã falamos disso. A casa vai ser minha. – Concluiu a Cláudia, deitando a cabeça num tronco.
Não podia deixar que se criassem discórdias no grupo. Afinal de contas elas eram o mais próximo que eu tinha de amigas. Tínhamos fugido todas do manicómio. Mas as únicas que estavam do meu lado eram as irmãs…
Acordei durante a noite, certa do que tinha de fazer. Toquei no ombro da Lara, sobressaltando-a. Atraí-a para um pouco longe do sítio onde estávamos. Disse-lhe que acreditava que ela tinha um dom, o de ver pessoas mortas. Acreditava nela. Ela ficou feliz. Eu gostava dela. Ela era a minha preferida. Eu amava-a. Beijei-a nos lábios docemente. Deitei-a levemente por entre as folhas que tinham caído das árvores e fechei-lhe os olhos, com suavidade. Amarrei numa pedra afiada que estava a meu lado e desferi um único golpe no pescoço dela, que jorrou quantidades enormes de sangue, sujando-me a cara e as roupas todas.
Voltei ao sítio onde (quase) todas descansávamos e apertei o pescoço da Cátia com muita força, que não conseguiu pedir por socorro. Por último esganei a Cláudia, uma criança de treze anos, não a deixando dar um único guincho. Senti a última respiração dela na minha cara. Depois fui dormir.
Acordei de manhã com as irmãs aos gritos e a chorar. Levantei-me e elas olharam para mim, coberta de sangue. Eu encolhi os ombros e disse-lhes que não queria discutir, porque éramos todas amigas. Preferi que as coisas ficassem assim! Elas olharam-me e fugiram de mim. Eu deixei-as correr um pouco, mas depois corri atrás delas, apanhei-as e espanquei-as às duas, que caíram inconscientes. Não fazia ideia que tinha tanta força assim! Abri dois pequenos buracos com as minhas mãos e enterrei as suas cabeças, deixando os corpos de fora.
Era já de noite quando voltei para junto da mansão. A lua iluminava a floresta toda de tons azuis e verdes escuros. Bom, agora não tinha outra solução, a não ser entrar na mansão e ver se conseguia mudar de roupa.
A porta estava entreaberta e eu, um pouco a medo, caminhei para o andar superior. Entrei num quarto e tomei um duche rápido. Vesti um vestido branco lindo que estava em cima da cama. Um pouco rasgado mas lindo. Sentei-me num cadeirão e penteei os meus cabelos negros compridos em frente ao espelho. Tinha toda a calma do mundo. Passados uns vinte e cinco minutos levantei-me e saí do quarto. Do outro lado do corredor vi um rapaz lindo, iluminado pelo luar. Alto, com os seus cabelos cinzentos e olhos azuis muito claros. A sua pele era muito branca mas deixava transparecer uma energia muito atractiva. No entanto eu fugi. Corri o mais que pude para longe dele, ainda que tivesse já deixado lá o meu coração e a minha alma.

4 comentários:

  1. Anónimo7/31/2011

    Adoro Mary! Quero 1 rapaz assim! *O*

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  2. Ahahah Obrigado :) Quem não quer? *-*

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  3. Ana Rita Dores7/31/2011

    eu amo esta história ! sinto-me apaixonada por ela prima (:

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  4. Falta uma ou duas partes para acabar amor... :) Mas depois...tchrraaaannn...vou fazer um filme! :)

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