segunda-feira, 23 de julho de 2012

Ele

No quarto permanecia o seu cheiro. O cheiro da mistura entre tabaco de enrola e perfume de homem. A sua essência. O seu lado selvagem, misturado com o seu lado inocente. Era uma maldição, a vida sem ele. Não tenho a certeza se pode ser considerado viver... Era um modo de sobreviver à sua ausência eterna. Ela olhou o pequeno jarro negro, que continha as cinzas daquele que foi outrora o seu grande amor. Também a sua alma estava negra, e repleta de tristeza.
Tinham passado apenas dois dias desde que o seu companheiro, o seu parceiro de todos os momentos, tinham cometido suicídio. Ela deitou-se no seu lado da cama que partilhava com ele, e acendeu um cigarro. Olhava o tecto enquanto pensava e fumava. Que mulher poderia ela ter sido, para o seu marido ter preferido dar as mãos à eterna ceifeira? Que defeitos horríveis poderia ela possuir, para que o seu amigo de infância preferisse ligar-se à morte, em vez do que se ligar a ela? Sejamos realistas: ele preferiu enforcar-se num beco de uma rua suja, do que olhar para ela mais uma vez. (continua)

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