A história que hoje vos conto, senhores da morte, é verdadeira, ainda que somente na minha imaginação. Porventura, e tendo em conta que a minha imaginação é o palco para alguns dos maiores espectáculos de horrores, queiram os senhores desculpar-me por não lhes poder realizar os desejos que, suponho eu, na minha maior humildade, fatais.
Vou então, pelo menos, tentar descrever ao pormenor os meus pensamentos. Agora sim, agora posso estar em perfeita comunhão com o meu lado negro, esse que coabita comigo, perdido, e que tenta, constante e violentamente, rasgar as minhas entranhas e torturar-me até que eu implore para que a morte me venha salvar, em busca da eterna liberdade. Hoje, a inspiração surgiu, por entre marés de decadência e lágrimas contidas. O meu lado negro libertou-se. Esperemos que volte para mim... Caso contrário terei soltado uma das maiores psicopatas e amantes da morte que a história já presenciou. Palavras da psicopata, a mesma que está neste momento a escrever este rascunho, com esperanças de um dia poder ascender ao lugar que lhe pertence. O lugar d'A Ceifeira.
Vamos então começar.
Eram um casal doce, jovem, de sentimentos sinceros e amor constante. Naquela manhã a luz solar inundava o quarto de paredes caiadas e reluzia nos lençóis de linho branco puro. O vento dançava uma valsa lenta e apaixonada com os cortinados, também eles brancos e leves. Ele, deitado em cima dela, fazendo força com os membros para que não a pudesse magoar, deixava cair os seus longos cabelos negros pela sua face de traços suaves e de lábios vermelho-sangue. Fazia sempre este movimento, depois das relações sexuais, com o intuito de a fazer sentir desejada e protegida. Conseguia-o sempre.
Olhou para o relógio do despertador e com um salto ergueu-se e começou a vestir os boxers negros justos, que lhe delineavam o corpo musculado como nunca outrora.
- Porra, vou chegar atrasado ao trabalho! E hoje tenho apresentação do projecto! Tenho de me despachar! Desculpa doce, vemo-nos logo? - Questionou-lhe ele, piscando o olho direito, numa tentativa de lhe fazer entender o que queria...
- Porra, vou chegar atrasado ao trabalho! E hoje tenho apresentação do projecto! Tenho de me despachar! Desculpa doce, vemo-nos logo? - Questionou-lhe ele, piscando o olho direito, numa tentativa de lhe fazer entender o que queria...
- E vais aguentar até lá? - Provocou ela, lançando-se para os seus braços e acariciando-lhe a face.
- Vou tentar... Mas vai ser difícil... Vou ficar a ressacar o dia todo... Vá, vou fazer uns ovos.
Dirigiu-se à cozinha, sob o olhar atento da namorada. Ela, completamente nua, olhou-se ao espelho, distraída. E então teve a brilhante ideia. Ia tirar uma foto em frente ao espelho, tal e qual como estava, para enviar quando ele estivesse a ir para o trabalho. Depois, deitada na cama, só tinha de esperar uns minutos e ele viria, excitado, ter com ela. O projecto que ficasse para depois. Ela era mais importante!
Tirou a foto, e ao vê-la no telemóvel, reparou que uma sombra negra desfocada, tinha surgido atrás dela. Olhou para a cozinha. Ele continuava, semi-nu, de avental, a fazer o pequeno almoço e a assobiar uma música que passava na rádio. Ela sorriu. Devia ter sido ele. Enviou a foto para telemóvel dele e deitou-se novamente.
Tirou a foto, e ao vê-la no telemóvel, reparou que uma sombra negra desfocada, tinha surgido atrás dela. Olhou para a cozinha. Ele continuava, semi-nu, de avental, a fazer o pequeno almoço e a assobiar uma música que passava na rádio. Ela sorriu. Devia ter sido ele. Enviou a foto para telemóvel dele e deitou-se novamente.
Ele saiu de casa, atrasado, ainda a mastigar o último pedaço do pequeno almoço.
As filas de carros em Lisboa, naquela manhã, como em tantas outras, acumulavam-se. Parado, por obrigação, ele olhou para o telemóvel e reparou que tinha uma mensagem da sua amada. Era uma foto. Abriu a foto e viu a sua amada nua, esbelta, e atrás dela, um homem velho, completamente vestido de negro, com um punhal na mão e um sorriso, dirigido não a ela, mas a ele, que olhava a foto com grande aflição.
As filas de carros em Lisboa, naquela manhã, como em tantas outras, acumulavam-se. Parado, por obrigação, ele olhou para o telemóvel e reparou que tinha uma mensagem da sua amada. Era uma foto. Abriu a foto e viu a sua amada nua, esbelta, e atrás dela, um homem velho, completamente vestido de negro, com um punhal na mão e um sorriso, dirigido não a ela, mas a ele, que olhava a foto com grande aflição.
Correu para casa, pensando que a sua namorada e a sua habitação estavam a ser assaltadas. Quando chegou, abriu a porta de rompante. A luz estava acesa. A sua namorada encontrava-se enforcada pelos fios do candeeiro de tecto, com os olhos abertos. Uma lâmpada tinha sido posta na sua boca, ainda ligada aos cabos. Representava a sua ideia.
A sua caixa toráxica tinha sido aberta, e as suas costelas apresentavam-se agora em forma de portas. Estava totalmente vazia, desprovida de órgãos. O seu coração batia normalmente, preso por um fio aos seus dedos dos pés, permanecendo, livre de sangue, em cima dos lençóis impecavelmente brancos. Aliás, todo o quarto continuava na mesma, sem vestígios de sangue ou violência.
Ele olhava-a, em estado de choque, quando ela abriu os olhos, afogados em sangue, e inclinou a cabeça na sua direcção. Sorriu.
Ele soltou um grito.
Acordou. Era de manhã e ela ainda dormia. Que pesadelo horrível!
Olhou a janela. O céu ainda estava escuro e não havia vento. Voltou a dormir, agarrado a ela.
Ela fez um movimento doce, afagando-lhe o cabelo, ainda a dormir. Ele sorriu. Aí, ela abriu os olhos na escuridão, manchados de sangue e sorriu também.
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