Sonho
Matam-me
o sonho, matam-me a vontade. Matam-me o querer, deixando somente a
saudade. Imploram para que ela, essa maldita, me tome e me consuma até
ao mais ínfimo pormenor da minha alma. "Afoga-te, monstro pensador!" -
dizem eles.
Aprisionaram-me como a uma ave numa gaiola d'ouro.
Querem-me tirar o pensamento, arrancar de mim tudo o que faz sentido. O
que eles não sabem é que já é pouco o que faz sentido
para mim... Nem eu faço sentido já. Sou como um livro escrito ao
contrário, e a minha tinta escorre pelo meu corpo, lenta e pesadamente,
representando todo o meu ser a esvair-se pelos meus poros.
Pois
vejam! Vejam bem! Estou de pé e pronta a bater asas! Não me conseguiram
domar e nunca conseguirão, demónios de fato! Pois eu, qual rainha da
selva, sou a indomável.
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