Eles eram quatro jovens, quatro amigos. Carolina, a mais nova e inocente; Carmo, uma mulher sensual, um pouco mais velha que a sua irmã Carolina; Lucas, um negrinho com um talento enorme para o drama; e Miguel, o mais velho e, consequentemente, líder do grupo.
Os quatro eram actores do mais alto nível. Faziam parte (eram os únicos elementos aliás) de um companhia de teatro independente, que corria o país com as suas dramatizações que chocavam mundos e angariavam fundos, muitos fundos.
E contudo, desta vez eles não estavam a representar (pelo menos é o que se acha). As lágrimas escorriam pelas suas faces demasiado maquilhadas e os gritos sufocados abundavam no grupo. Lucas estava morto. Foi Carolina quem o encontrou, sentado numa cadeira, de uma forma muito relaxada. Teria morrido de causa naturais, não fossem as marcas de correntes estampadas no seu pescoço. Depois dos resultados dos exames forenses, que provavam que tinha sido homicídio começou a instalar-se a discórdia entre o grupo. Carolina desconfiava de Carmo, porque supostamente tinha ciúmes da relação perfeita que havia entre Carolina e Lucas; Carmo desconfiava de Carolina, porque ela poderia ter descoberto que essa relação não era assim tão perfeita, visto que Lucas caminhava todas as noites até seu quarto, a fim de sexo com alguém que sabia o que estaria a fazer; e se tivesse sido Carolina? Seria ela capaz de matar a sua própria irmã?
Miguel tinha somente receio que pensassem que ele tinha inveja de Lucas, e que o tinha morto por causa disso.
Falaram então uns com os outros e decidiram, talvez em homenagem a Lucas, talvez para aproveitar a publicidade que a sua morte lhes tinha oferecido, continuar o espectáculo - " 'cause the show must go on!" Este espectáculo consistia em relatar uma lenda daquele teatro. Falava de um rapaz, que tinha sido esquecido no teatro por uma noite e que nessa noite tinha falado com os fantasmas do teatro que, por terem achado os seus conselhos tão sábios, o trancaram e o deixaram a morrer à fome, de forma a que ele lhes fizesse companhia.
A verdade? A verdade é que esse rapazinho foi deixado, esquecido no teatro pelos pais, morrendo à fome, sem amor, sem carinho, e sem comida.
Era o dia do espectáculo. As portas do teatro abriram-se nessa manhã e a população corria para garantir o seu bilhete.
Carolina tomava o seu café da manhã na cozinha do teatro, digerindo, lentamente, um pão com manteiga e o facto de o seu namorado já não estar vivo.
Surgiu então uma voz que se aproximava conforme os segundos passavam. Falou com Carolina de uma forma cuidadosa. Queria ser seu amigo, queria que fosse ela a revelar ao mundo que a lenda era verdadeira, que ele existia. Ela respondeu, sobressaltada, que iria guardar tudo para ela até aos momentos depois do espectáculo. Teria de planear tudo até ao mais ínfimo pormenor, para que ninguém descobrisse. Ele apelidou-a de Dona Loucura.
Carmo maquilhava-se no camarim, quanto encontrou um pequeno bilhete, dirigido a ela:
"Carmo, minha querida:
Estou feliz por finalmente poder comunicar contigo. Tenho-te contemplado ao longo dos dias e o teu corpo emana uma sensualidade que me atinge de uma forma profunda, demasiado profunda.
É por isso que quero confessar a ti e unicamente a ti, quem eu sou. Eu sou um fantasma, aprisionado para sempre neste teatro horrível, e quero que o contes ao mundo, mas apenas depois do espectáculo. Quero mesmo muito ser teu amigo, e quem sabe mais.
Sei da tua traição, Dona Traição, e perdoo-te.
Um beijo"
Carmo sorriu.
Miguel preparava-se para actuar quando alguém na sua cabeça sussurrou: "Mataste Lucas. Eu sei. Mataste Lucas, por inveja. Mas eu não conto a ninguém. Sou real e quero ser teu amigo. Vou-te ensinar tudo no fim do espectáculo, mas fala de mim nos agradecimentos finais!" Miguel acenou, assertivamente, muito seguro de si.
A verdade? A verdade é que esse rapazinho foi deixado, esquecido no teatro pelos pais, morrendo à fome, sem amor, sem carinho, e sem comida.
Era o dia do espectáculo. As portas do teatro abriram-se nessa manhã e a população corria para garantir o seu bilhete.
Carolina tomava o seu café da manhã na cozinha do teatro, digerindo, lentamente, um pão com manteiga e o facto de o seu namorado já não estar vivo.
Surgiu então uma voz que se aproximava conforme os segundos passavam. Falou com Carolina de uma forma cuidadosa. Queria ser seu amigo, queria que fosse ela a revelar ao mundo que a lenda era verdadeira, que ele existia. Ela respondeu, sobressaltada, que iria guardar tudo para ela até aos momentos depois do espectáculo. Teria de planear tudo até ao mais ínfimo pormenor, para que ninguém descobrisse. Ele apelidou-a de Dona Loucura.
Carmo maquilhava-se no camarim, quanto encontrou um pequeno bilhete, dirigido a ela:
"Carmo, minha querida:
Estou feliz por finalmente poder comunicar contigo. Tenho-te contemplado ao longo dos dias e o teu corpo emana uma sensualidade que me atinge de uma forma profunda, demasiado profunda.
É por isso que quero confessar a ti e unicamente a ti, quem eu sou. Eu sou um fantasma, aprisionado para sempre neste teatro horrível, e quero que o contes ao mundo, mas apenas depois do espectáculo. Quero mesmo muito ser teu amigo, e quem sabe mais.
Sei da tua traição, Dona Traição, e perdoo-te.
Um beijo"
Carmo sorriu.
Miguel preparava-se para actuar quando alguém na sua cabeça sussurrou: "Mataste Lucas. Eu sei. Mataste Lucas, por inveja. Mas eu não conto a ninguém. Sou real e quero ser teu amigo. Vou-te ensinar tudo no fim do espectáculo, mas fala de mim nos agradecimentos finais!" Miguel acenou, assertivamente, muito seguro de si.
Nunca um teatro fora tão aplaudido.
Após o fim do teatro a voz falou com os três ao mesmo tempo. Nunca ninguém entendeu o que a voz lhes disse. Só sabemos que ela lhes tinha aconselhado que fossem amigos e eles não foram. E aquele ser humano só queria amigos. Mas todos os rapazes crescem e tornam-se homens, e ao tornarem-se homens perdem toda a humanidade. Foi o que aconteceu.
Não se sabe bem o que se passou depois do teatro, mas dias depois milhares de postais vindos do teatro correram o mundo.
O teatro fechou para sempre, devido ao conteúdo desses postais.
No verso do postal diz " A Amizade supera todas as barreiras: a loucura, a traição, o remorso e a morte." e, na frente, uma imagem chocou o mundo: os quatro actores estavam sentados na plateia. As suas caras estavam deformadas, cobertas de marcas de injecções de cera. Nas suas testas, mesmo por cima dos seus olhos esbugalhados e marcando as suas expressões de dor, dizia: "MORTO", "DONA LOUCURA", "DONA TRAIÇÃO" e "DOUTOR REMORSO". Uma quinta figura de cera podia ser observada no canto do postal, com uma frase escrita no peito: "Agora já tenho amigos no teatro".
E acaba assim a nossa história. Com cinco amigos e uma amizade imortalizada para sempre. Que lição podes tirar daqui? Espero, sinceramente, que nenhuma.
Não se sabe bem o que se passou depois do teatro, mas dias depois milhares de postais vindos do teatro correram o mundo.
O teatro fechou para sempre, devido ao conteúdo desses postais.
No verso do postal diz " A Amizade supera todas as barreiras: a loucura, a traição, o remorso e a morte." e, na frente, uma imagem chocou o mundo: os quatro actores estavam sentados na plateia. As suas caras estavam deformadas, cobertas de marcas de injecções de cera. Nas suas testas, mesmo por cima dos seus olhos esbugalhados e marcando as suas expressões de dor, dizia: "MORTO", "DONA LOUCURA", "DONA TRAIÇÃO" e "DOUTOR REMORSO". Uma quinta figura de cera podia ser observada no canto do postal, com uma frase escrita no peito: "Agora já tenho amigos no teatro".
E acaba assim a nossa história. Com cinco amigos e uma amizade imortalizada para sempre. Que lição podes tirar daqui? Espero, sinceramente, que nenhuma.
Maria J. Vieira
Maria, tu assustas-me! xD
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