Já toda a gente sabe que o mundo vai acabar no dia 21 de Dezembro de 2012. Estamos em Outubro e foram construídos cercos à volta de cada cidade, de modo a evitar confusões. Enormes redes, impenetráveis, separam famílias e amigos. Foi criada uma força de intervenção especial, que tem como único objectivo ir matando. Sim, ir matando. Esta quantidade abismal de guardas vai atirando contra pessoas, aleatoriamente, com o intuito de evitar muita confusão no dia do Juízo Final.
Eu sou a nona irmã. Sou a mais nova e a única rapariga. Os meus oito irmãos mais velhos estão revoltados com tudo isto e preparam um plano engenhoso para acabar com esta tragédia ou, pelo menos, evitar o que conseguem evitar.
Somos uma família muito especial. Somos irmãos órfãos, pelo que nos tornamos muito unidos. Costumámos até brincar com as linhas que aparecem na palma das nossa mãos. Cada um de nós tem nove linhas. Nem mais nem menos. O meu irmão mais velho costuma dizer que é forma de nos lembrarmos que estamos juntos para tudo, na morte ou em vida.
Ontem acordei bem cedo para fazer o almoço. Queria fazer um almoço muito bom para eles, tal como eles gostam. Como sou a única rapariga cá em casa sou eu quem trata das lidas. Mas eu não me importo. Eles estão muito ocupados a tentar salvar o mundo.
Estávamos todos sentados a almoçar quando eles entraram. Armados até aos dentes e liderados por um homem com um sorriso malicioso arrombaram a nossa porta. Ele chegou perto de mim, amarrou-me no braço e disse, rindo: "Esta é minha."
Arrastou-me pela casa para um dos quartos. Os meus irmãos tentaram levantar-se mas foram impedidos pelos os outros guardas, que sorriam. O meu irmão mais velho gritou por mim e foi atingido, mesmo entre os olhos. Gritei. Ele caiu, pesado, no meio da cozinha.
Ele levou-me para o quarto e violou-me. Enquanto ele se limpava eu, por entre lágrimas, olhei a minha mão. Tinha desaparecido uma das linhas.
Eles partiram a loiça e as estantes. Depois saíram.
Os meus irmãos revoltaram-se e decidiram partir para se juntarem à rebeldia, que planeava combater esta força de intervenção.
Fomos falar com um casal de velhos que vivia perto de nós e possuía contactos com os rebeldes. Os meus irmãos entraram em casa, seguindo a velhota. Eu vi, nas traseiras, o velhote e fui ter com ele. Ele chorava desalmadamente.
"Mataram o meu filho, o meu pobre filho,o meu bebé!"
Acalmei-o e fomos para dentro. Ele pegou numa faca e disse-me "Para quê esperar pela morte certa? Porque não morrer com dignidade?"
Eu impedi-o, disse-lhe que tudo correria bem, e levei-o para dentro de casa.
Muitas semanas passaram. Os meus irmãos tinham-se juntado aos rebeldes e tinham todos morrido, supunha eu. Apenas restava uma linha na palma da minha mão: eu própria.
O casal de velhotes ainda estava vivo e eu estava a morar com eles. A força de intervenção tinha morto muita gente. Sobrávamos poucos antes do dia do Juízo Final.
Tinha-me tornado dura, fria. Resistia bem à dor, tinha-me treinado. Estava pronta. Saí de casa e gritei: "Queres-me? Aqui me tens!"
Ele veio, sozinho. O líder da força de intervenção, que me tinha violado. Riu-se. Corri para ele e espetei-lhe o meu punhal, que tirei do meu irmão mais velho, mesmo no meio dos olhos. Ele caiu imóvel no chão, morto.
Retirei o punhal, e muito lentamente espetei-o em mim. Caí no chão. Enquanto fechava os olhos vi que a linha que restava se desvanecia... Com as minhas últimas forças sussurrei: "Este foi o meu último dia: o dia do Juízo Final".
Dia 21 de Dezembro de 2012 começou e acabou. E a vida na terra continuou.
Eu sou a nona irmã. Sou a mais nova e a única rapariga. Os meus oito irmãos mais velhos estão revoltados com tudo isto e preparam um plano engenhoso para acabar com esta tragédia ou, pelo menos, evitar o que conseguem evitar.
Somos uma família muito especial. Somos irmãos órfãos, pelo que nos tornamos muito unidos. Costumámos até brincar com as linhas que aparecem na palma das nossa mãos. Cada um de nós tem nove linhas. Nem mais nem menos. O meu irmão mais velho costuma dizer que é forma de nos lembrarmos que estamos juntos para tudo, na morte ou em vida.
Ontem acordei bem cedo para fazer o almoço. Queria fazer um almoço muito bom para eles, tal como eles gostam. Como sou a única rapariga cá em casa sou eu quem trata das lidas. Mas eu não me importo. Eles estão muito ocupados a tentar salvar o mundo.
Estávamos todos sentados a almoçar quando eles entraram. Armados até aos dentes e liderados por um homem com um sorriso malicioso arrombaram a nossa porta. Ele chegou perto de mim, amarrou-me no braço e disse, rindo: "Esta é minha."
Arrastou-me pela casa para um dos quartos. Os meus irmãos tentaram levantar-se mas foram impedidos pelos os outros guardas, que sorriam. O meu irmão mais velho gritou por mim e foi atingido, mesmo entre os olhos. Gritei. Ele caiu, pesado, no meio da cozinha.
Ele levou-me para o quarto e violou-me. Enquanto ele se limpava eu, por entre lágrimas, olhei a minha mão. Tinha desaparecido uma das linhas.
Eles partiram a loiça e as estantes. Depois saíram.
Os meus irmãos revoltaram-se e decidiram partir para se juntarem à rebeldia, que planeava combater esta força de intervenção.
Fomos falar com um casal de velhos que vivia perto de nós e possuía contactos com os rebeldes. Os meus irmãos entraram em casa, seguindo a velhota. Eu vi, nas traseiras, o velhote e fui ter com ele. Ele chorava desalmadamente.
"Mataram o meu filho, o meu pobre filho,o meu bebé!"
Acalmei-o e fomos para dentro. Ele pegou numa faca e disse-me "Para quê esperar pela morte certa? Porque não morrer com dignidade?"
Eu impedi-o, disse-lhe que tudo correria bem, e levei-o para dentro de casa.
Muitas semanas passaram. Os meus irmãos tinham-se juntado aos rebeldes e tinham todos morrido, supunha eu. Apenas restava uma linha na palma da minha mão: eu própria.
O casal de velhotes ainda estava vivo e eu estava a morar com eles. A força de intervenção tinha morto muita gente. Sobrávamos poucos antes do dia do Juízo Final.
Tinha-me tornado dura, fria. Resistia bem à dor, tinha-me treinado. Estava pronta. Saí de casa e gritei: "Queres-me? Aqui me tens!"
Ele veio, sozinho. O líder da força de intervenção, que me tinha violado. Riu-se. Corri para ele e espetei-lhe o meu punhal, que tirei do meu irmão mais velho, mesmo no meio dos olhos. Ele caiu imóvel no chão, morto.
Retirei o punhal, e muito lentamente espetei-o em mim. Caí no chão. Enquanto fechava os olhos vi que a linha que restava se desvanecia... Com as minhas últimas forças sussurrei: "Este foi o meu último dia: o dia do Juízo Final".
Dia 21 de Dezembro de 2012 começou e acabou. E a vida na terra continuou.
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