sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Alice no país das maravilhas ( A Revolução)*


Sabem quando tudo parece correr mal e apenas queremos pôr um fim à nossa vida? Ou, quem sabe... à vida dos outros...
Esta é a história de uma rapariga que não pertencia ao mundo em que vivia. E, talvez por isso, foi semeando dentro de si um ódio por toda a gente que a rodeava e que a fazia sentir como se fosse um pedaço de carne. Nem isso às vezes. Faziam-na sentir tão mal que ela tinha chegado ao ponto de não conseguir suportar os olhares de superioridade, as palavras de desprezo, os comentários de escárnio. O peso do ódio que ela sentia por eles tinha aumentado tanto no seu coração que tornava-se difícil até para respirar.
Alice, assim se chamava a protagonista da nossa história, tinha chegado à conclusão que não valia a pena viver num mundo tão cruel, tão egoísta, tão mal-intencionado. E decidiu então por fim a tudo.
(E agora eu diria que Alice tinha ganho a derradeira coragem e que, com um único golpe, desferiu em si um corte que a fez cair por terra. Mas assim a história não seria uma história, mas sim um excerto do diário de muitas jovens hoje em dia. )
Alice pensou em suicidar-se sim, mas não o fez. Ela sabia que fazia parte de algo maior, algo extremo.
Então tomou a decisão mais descabida (e a mais apetecível) que podia ter: vingança. Ela decidiu vingar-se de toda a gente, na sua maioria raparigas, que a tinham levado ao ponto em que se encontrava, a loucura.
Planeou dias a fio uma estratégia para conseguir atingir o seu objectivo e, após uma semana, tinha tudo pronto.
Na Segunda-feira uma manhã chuvosa e encoberta pelo nevoeiro lançava o seu mau-humor e descontentamento sobre todos os alunos da escola secundária. Alice tinha chegado à escola no autocarro, onde mais uma vez tinha sido arrancada do lugar pela Catarina, aquela bruta-montes com a mania que é muito boa (na verdade todas as escolas têm uma Catarina). Mas, apesar disso, saiu do autocarro com um sorriso estampado na cara, o único desde à muito tempo.
Às dez horas treze raparigas saíram das suas salas com o recado de que deviam ir ter com o director urgentemente. "Um caso de vida ou morte", dizia no papel. Mal elas sabiam.
- Alice para que lado foi o director? Não está na sala.
- Acho que foi à cave buscar uns papéis do teu arquivo.
- Para quê?
- Não sei, desculpa.
- Bem podes. Não serves para nada mesmo.
Alice sorriu. Já não a afectava.
Desceram as treze raparigas e Alice para a cave, à procura do director. Mas apenas encontraram um corpo estendido no chão. Todas muito assustadas foram ter com o director. Alice começou a rir muito alto e trancou a porta.
- Não se preocupem suas idiotas, ele está só inconsciente.
Elas olharam entre si e voltaram a fixar os olhos em Alice. Agora ela tinha uma arma apontada a elas na mão.
- Façam-me um favor e encostem-se à parede e coloquem estas algemas está bem? Eu detestaria ter de acertar alguma de vocês na cabeça agora. Mas mais tarde, quem sabe, poderá ser um bom jogo... não acham?
- Que se passa aqui Alice?
Alice riu. Sempre com a arma apontada ao grupo de raparigas assustadas encostou-as à parede e prendeu-as.
- Que se passa perguntam vocês? Vocês é que destruíram a minha vida! Eu só estou a retribuir tudo o que me fizeram! Mas de uma forma muito mais divertida (pelo menos para mim).
- Alice que pensas que estás a fazer? Pára com a brincadeira! Que nos vai fazer? Vais atirar contra alguma de nós é? Nunca sairás impune!
- Mas quem vos disse que eu conto sair daqui? Esta é a minha última paragem, minhas "amigas". E vocês vão no mesmo autocarro que eu, sentadas mesmo ao meu lado. Passo a explicar o que estou a planear fazer: primeiro vou queimar-vos as pálpebras com este isqueiro, para que se possam ver umas às outras e a mim e não tenham a oportunidade de fechar os olhos. Depois vou cortar-vos a língua com este punhal, para que nunca mais possam falar mal de ninguém. De seguida conto em arrancar fora os vossos dedos, um a um, com este torniquete, para que não tenham oportunidade de usar um anel de casamento no dedo, tal como me roubaram a mim esse sonho. Estou ainda a ponderar matar ou não uma de vocês. Mas para mim até podem decidir quem vai ser. Para mim nenhuma vale nada, e quando chegarmos a este passo todas vão ver que a amizade enorme que sentem umas pelas outras se resume a cinzas quando chega a vez de darmos a nossa vida pela dos nossos amigos.
Por último vou cortar o meu pescoço, para que todas tenham pesadelos comigo (e juro aqui e agora que os vão ter) quando me virem a esvair em sangue, por vossa causa.
Para trabalhos de casa sugiro que pensem numa forma de comunicar com a grande quantidade de amigos que têm lá em cima, sem língua e aterrorizadas, para que algum deles descubra que vocês estão cá em baixo. Boa sorte meninas.
E dito isto passou à acção. E vingou a sua morte mesmo antes de ter acontecido. E, após o seu plano ter sido cumprido, apareceu Laura, uma outra rapariga a quem elas tinham feito mal durante oito anos, que ouviu os gritos assustados, e chamou alguém para as libertar. Passado umas horas o director acordou sem se lembrar de nada do que se tinha passado e voltou tudo ao normal. Bem, quase tudo. Quatorze raparigas tinham saído daquela escola. Treze delas saíram da cidade e correm boatos de que ficaram loucas. Uma delas está agora enterrada no cemitério local, respeitada por todos, entretida a assombrar todas as que lhe causaram a morte. Pesadelos para umas, sonhos para ela. É Alice, no seu País das Maravilhas.

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