quarta-feira, 20 de julho de 2011

A Criada


As criadas são sempre as vítimas. Principalmente as mais jovens. São elas que pagam quando o filho malcriado parte algo (desastradas!); são elas que são despedidas se apanham a mulher com o amante (novo e bem bonitinho e, por sinal, na caça à fortuna) a fazer coisas que até dói só de pensar; são elas que são forçadas a ter sexo sujo com o patrão, porque chegou mal disposto do trabalho e quer sentir-se superior a alguém ("gostas disto não gostas cabra!?"). E depois são elas que limpam o resultado, pelo meio de insultos e de risos maliciosos.
Esta criada (não tem nome, porque as criadas não têm nome, ou não interessa) não era diferente. Tinha apenas 17 anos. E contudo, era prostituta a tempo inteiro no trabalho e quando chegava a casa prostituta era (só que sem receber). Tinha medo de ir para casa, mas tinha de ir. O pai bêbado batia e violava sem piedade e a mãe, essa porca, fugiu com um idiota rico e gordo qualquer quando ela tinha apenas treze anos. Também, não importa muito, ela já era dona de casa muito antes disso acontecer.
A razão porque ela chegava a casa todos os dias e porque ela não fugia do trabalho era porque ela tinha um pai, que apesar de não ser pai nenhum, era pai dela; e porque precisava do dinheiro para sustentar o vício do pai. Conclusão? Para além de vítima era idiota.
Um dia, enquanto limpava o quarto do filho malcriado, o patrão apareceu à porta do quarto, com um sorriso daqueles que só dá vontade de o espancar, e encostou-se.
- A minha mulher saiu. Foi pintar o cabelo e comprar roupas. Aquela vadia só me gasta dinheiro.
- ...
- Apetece-me um banho. Apetece-te um banho?
- Não, senhor.
- Não era uma pergunta.
E foram para o quarto de banho. Ele, qual lontra marinha, deitou-se na banheira de água quente e sais de banho que ela tinha preparado. Obrigou-a a lava-lo. Até nas partes íntimas, onde ela já tinha sido forçada a tocar tantas outras vezes. Ela lavou, tentado sempre não olhar para ele. Ser mais repugnante. Depois disse-lhe para ela se despir e entrar na banheira. 
Enquanto se despia as imagens de tudo o que lhe acontecera cobriam-lhe o pensamento. Tenho a certeza que se a olhasses bem nos olhos conseguirias ver o que ela estava a ver nesse momento. Ela parou, já com o corpo franzino e branco completamente nu. Olhou para ele e sorriu. Entrou na banheira, aproximou-se dele e beijou-o. Beijou-lhe os lábios nojentos, de olhos abertos e sem nenhum amor.
Amarrou-lhe os cabelos e puxou. Ele gemeu de prazer. Devia pensar que ela o estava a tentar excitar... Ela puxou mais e soltou um risinho. Bateu com a cabeça dele contra a banheira. Ele olhou para ela e riu-se. Pediu calma. Ela bateu e tornou a bater, uma e outra vez. Bateu até a água do banho ficar completamente vermelha. Quando o largou, o seu corpo caiu, inanimado. Ele permanecia ali, de olhos e boca aberta, morto, com o cabelo coberto de sangue e a cabeça desfeita, de todas as pancadas que tinha sofrido.
Olhou para a água vermelha e tocou-lhe. Quis banhar-se nela, e banhou. Durante horas a fio ficou lá, rindo. Quando saiu do banho, com um sorriso estampado e uma pele de seda, embrulhou-se numa toalha e desceu as escadas. A mulher acabava de entrar. Passou por ela, sorriu, e saiu a porta.
Foi directa para casa, onde encontrou o pai, bêbado como nunca, sentado no sofá a ver televisão. Ela entrou a porta e ele olhou para ela. Depois continuou a ver televisão. Ela foi buscar a arma que estava em cima do armário e aproximou-se dele. Ele viu-a, mas não proferiu nem uma palavra. Apenas ficou a olhar para ela, à espera de alguma coisa. Ela olhou para a arma e para ele e sorriu. Não, aquilo não ia bastar para compensar o que ela tinha passado. Precisava de sentir o prazer do seu toque, enquanto o matava. Precisava de sentir o seu respirar ofegante e os seus sons de pânico e dor. Precisava de algo mais...pessoal. No final de contas era o seu pai! O tratamento tinha de ser especial! Pousou a arma e foi buscar uma faca. "Óptimo, mais contacto."- pensou. Ele estava demasiado bêbado para se mexer. Esfaqueou-o vezes sem conta. De um lado temos o olhar estupefacto (já morto) do pai dela. Do outro lado o riso sincero dela. O corpo estava coberto de sangue e as roupas rasgadas pelo afiado da faca. Afastou-se um pouco para contemplar o que tinha feito. Que obra de arte. Brincou um pouco com a faca ensanguentada entre os dedos. Sorriu e deu mais um golpe.
Vestiu-se e saiu. Continuou a andar, de sorriso estampado na cara.
A "criada" chamava-se Sofia.

8 comentários: